loteria

Existe uma palavra que me incomoda às vezes, não sei se é a sonoridade dela, ou a situação em que é dita, sei que incomoda. Ela vai na vida de todo mundo... é a Desgraça. Há sempre quem pense que a dos outros é menor, quando na verdade, isso não pode ser coerente. A desgraça é de cada um, não dá pra saber se uma é maior ou menor que a outra. Não há um tipo de média da desgraça onde possamos classificar quem está acima ou abaixo. Pois depende da vida que cada um leva.
A desgraça é um cubículo, onde todo mundo fica por um "bom" tempo. Um cubículo que só cabe um indivíduo, e em pé, não dá pra se mover: você entra na desgraça, alguém fecha a porta, e pronto, dá-se o brêu. Geralmente é assim: quem tá na desgraça não vê, ouve, ou opina sobre a desgraça alheia.
O que há, de verdade, são gigantescos galpões com esses vários comodozinhos onde o desgraçado fica enclausurado imóvel, são os "Galpões da Desgraça". Esses estão espalhados pelo mundo, são redes intermináveis de sofrimento, o que nos leva a concluir que tem muita desgraça acontecendo ao mesmo tempo. E tem também muita gente por aí rindo da desgraça dos outros. Sinceramente não sei o que se passa na cabeça dessa gente, que pensa estar livre dela, mas de uma coisa eu tenho certeza: quando eles menos esperarem, alguém virá lhes trancar no "quartinho", e aí a graça acaba, e começa o quê?... Pois é.
Eu já fiquei no quartinho, e algumas vezes mais tempo que outras. Tem um ar húmido, cheiro de medo, olhos lacrimejantes, dor-de-cabeça, apagões constantes de memória, calor, calafrios e uma tremedeira incontrolável.
O conselho que vos dou é: ajude um desgraçado, porque nunca se sabe quando vamos perder a graça.