sábado, 30 de junho de 2007

acampamento em Ituaçú - DIÁRIO DE BORDO

Brumado, Sexta-feira, 22 de junho, 2007. Praça da Prefeitura, 8:30 da manhã.
O dia tá nublado, mas não frio; só um espera todo mundo, eu. Faltam quatro para a integridade do bando. Daqui rumaremos para o ponto do ônibus, e de lá, para Ituaçu.

(Binho)


Brumado, Ponto do õnibus, 9:45 da manhã.
Busão chegou, lotado, partiu, lotado. Ficamos parados... Daqui a pouco passa outro.

(Renê)


Brumado, Dentro do õnibus, 10:15 da manhã.
O ônibus chegou. Nº 666. O ônibus tá o luxo.

(Tixiku)


Brum... Saindo de Brumado, 10:45 da manhã.
A gente tá saindo do buraco (Brumado), o ônibus tá apinhado de gente, verdadeiro pandemônio.

(Binho)


Ituaçu, sexta-feira, 22 de junho, 2007. Local do acampamento, 4:30 da tarde.
Chegamos! Na verdade, chegamos em Ituaçu, meio-dia e alguma coisa, depois de almoçar, fomos a procura de um lugar para acampar, e só agora encontramos, depois de andar (perdidos) por mais de duas horas. Neste momento, uns (2) trabalham, outros (7) olham.

(Binho)

PS: Quando fomos procurar o lugar para acampar, alguns amigos nos ajudaram a levar a bagagem, por isso o total de nove “uns (2) trabalham, outros (7) olham.

Sábado, 23 de junho, 2007. Dentro da barraca, começo da manhã.
Não sei que horas são. Tô com uma dor de cabeça do cão, devido aos quase 5 litros de vinho que Eu, Juninho e Renê tomamos ontem à noite (Bia ficou dentro da barraca dela ouvindo a filosofia dos 3 bêbados que falavam desenfreadamente sobre milhões de assuntos ao mesmo tempo, sem terminar nenhum, lá fora na Chuva). Aliás, essa bebedeira explica a não atualização do diário na noite de ontem. Voltando a hoje: lá fora chove, mas aqui dentro da barraca também tá molhado; todo mundo já acordou; conversamos agora sobre a situação das barracas; cada um de dentro da sua; todas molhadas. Não sei por quê, mas tô com uma leve impressão de que hoje será um daqueles dias em que eu não tomo café, e se continuar chovendo, não terá almoço nem janta também. A lenha molhou.

(Binho)


Sábado (ainda), de cima de uma pedra, quase meio-dia.
O café não aconteceu, tomei vinho. Tava eu ali agora a pouco, tomando vinho, deitado, olhando pro céu, vendo o teatro das nuvens, que a cada hora se transformam em personagens diferentes. O sol tá quente pra caramba. Pois é, ele apareceu, e veio sem dó dos mortais.

(Binho)


Sábado, de cima da pedra (de novo), quase meia-tarde.
Não sei bem que horas são, mas deve ser umas 3h da tarde. A galera subiu uma trilha pra tomar um banho na cachoeira, conhecida por aqui como “Bica”. Tem uma família passando perto do nosso acampamento agora — nossas barracas estão numa área aberta da mata, onde paasa uma trilha para a Bica —, neste momento as crianças estão escolhendo as paisagens que servirão de plano de fundo para suas fotografias... Parece que acharam... os moleques agora estão fazendo caras-e-bocas, mas o pai não está sabendo usar a câmera fotográfica. Ah, famílias, famílias...

(Binho)



Pois é, a última nota do diário de bordo foi escrita no sábado, 23/06, à tarde, como vocês já leram. Mas o acampamento só acabou na quarta-feira, 27/06, às 7:30 da manhã. O motivo do empacamento do diário deve-se a uma falha de memória, minha (foi mal), mas a culpa não cabe somente a mim, e sim, também, a um vinho, que no ápice de sua amargura... ficou doce. Quando me lembrei do diário, já era segunda-feira, aí decidi não mais fazê-lo; pois os fatos devem ser anotados na hora em que acontecem, na emoção do momento, do contrário, ficam infiéis, e como eu não queria mentir e nem deixar um buraco no diário, achei melhor deixá-lo como estava. Mas lhes darei uma breve, brevíssima, idéia desse, que foi um dos melhores acampamentos que já fui (esse foi o 3º)...

Cinco dias. Quatro amigos nos três primeiros, seis nos dois últimos. Naquele pedacinho de mundo, fizemos o nosso. Um paraíso particular. Vivemos em transe durante todo esse tempo. Transe consciente. E, grande parte do tempo, estivemos nos 90% (quem esteve lá, entende esses 90). Era tudo uma maravilha: cachoeira, lua, fogueira, arroz com calabrêsa (valeu, Bia!), chuva, filosofia, música, e ele, o horrível, o hediondo, o indigesto, porém inseparável “Gauchão do Sul”, de longe (e de perto também) o pior vinho do mundo. Assim correram os dias no acampamento...
Meus amigos, a hipocrisia é um veneno que corroe até a última infinitesimal célula de um cérebro. E eu, devo dizer, não sou adepto dela. Por isso não omitirei fatos que foram, de certa forma, até relevantes para o sucesso dessa experiência. Vamos então a esses fatos...
É... assim... a paz... é... como é que vou dizer isso...? A paz não reinou exatamente em todos os momentos nesse “paraíso”. Pra ser mais específico, a paz ficou meio opaca no 4º dia, quando chegaram Tixiku e Filipe — desses dois, o segundo, quando chegou em Ituaçu, não tinha intenção de acampar, mas depois das festas ele deu de ir pro acampamento. Já o primeiro disse que iria acampar, mas só foi pro camping no 4º dia. — A partir do momento em que esses dois chegaram, só o que ouvimos foi, "só tô a BRÊFA", ou “Fulano, VIDA LÔCA”, ou ainda “Beltrano, VIDA BANDIDA”. Os dois não falavam n’outra coisa. Dos antigos moradores, quem ficou com maior parte do que sobrou da paz, depois da chegada da dupla, foram Juninho e Bia, que não tiveram que dividir barraca com nenhum deles. Porém, com todos esses impasses, houve ali uma harmonia, mesmo que desconexa, que guiou todos para um só objetivo: Diversão. O objetivo foi alcançado; mesmo que essa “diversão” tenha sido uma discussão. O que importa é que foi alcançada, e ninguém levou mágoas pra casa. Tomara.
Sabíamos da riqueza daquele momento, e tentamos explorá-lo até o fim. Fomos levando. Afinal, a chegada dos “Brefeteiros” (mais uma expressãozinha da dupla) não trouxe só o fim da paz, vieram também com eles algo que nos acompanhou pouco nos primeiros três dias: besteiras. Como disse Renê, “Esses dois parecem aqueles idiotas que sempre estrelam seriados americanos”.
Já estávamos acostumados à “dupla americana” quando a verdadeira tristeza nos veio, chegou por telefone. Era terça-feira, pouco depois do meio-dia, quando recebemos a notícia da morte de um amigo, Tiago Vandré. Foi assim, como que pra nos mostrar que tanta alegria não era justo, e que esses excessos felizes trazem sempre consigo a escuridão cegante do oposto. Então, foi-se embora o menino Vandré, não se sabe pra onde. Mais uma cabeça boa que se vai e se perde no espaço.
Depois da notícia, ficamos ali, absortos em pensamentos, caras tristes, ou só silenciosas, sem expressão. Depois de breves palavras e reflexões sobre a, inevitável, morte — reação comum em situações como essa —, saímos. Fomos comprar a última refeição do acampamento: carne pra churrasco.
Na última noite, tudo correu bem: Tixiku ficou bêbado e caiu cedo na cama, para o nosso alívio. Nós continuamos com o churrasco, e quando não havia mais o que ingerir... fomos dormir. Foi nessa hora que me veio a saudade. Me lembrei do dia em que chegamos ali; do que fizemos, os erros no caminho, as quedas ; de todas as Brêfas e Vidas Lôcas, que ouvimos repetidas vezes; das idéias expostas; das músicas tocadas; da umidade da barraca e, dentre muitas outras coisas, por incrível que pareça, do vinho; pois é, até do vinho, que descansado nas águas tranqüilas que jaziam em frente às barracas, ficou bebível. A saudade é uma coisa interessante, às vezes ela vem antes do motivo dela ir.
Então, foi assim. Como foi dito dentro do ônibus quando voltávamos pra casa, “Ficamos cinco dias fora da gaiola”. E fora dessa “gaiola” tudo vale, até trocar “anti-ético” por “inhético”, né não, Tixicu?


Valeu, galera!

Juninho, pelas músicas e pelas dicas cinematográficas;
Bia, pelo rango e pelas dicas de psicologia;
Renê, pela filosofia e pelas dicas literárias;
Tixiku, pelas risadas, pela lenha desnecessária, e pela palavra nova;
Filipe, pela lenha desnecessária, pelas risadas e pela bagunça.

Obrigado a todos pela experiência.

4 comentários:

william gomes disse...

Pode ser que eu seje de outro planeta, mas devo confessar que eu me imaginei nesse acampamento enquanto eu lia O Diário de Bordo. Tu escreveu tão bem que imaginei todos os detalhes: tu com a camisa de Los Hermanos(branca), a calabresa com arroz, as mochilas nas costas, as crianças, o n° 666 atrás do ônibus(hehehehe), o garafão do vinho e tu na solidão na praça esperando o ônibus com mochila e barraca!
O acampamento foi massa mesmo sem estar lá!
ehhehehehee
Demorou de escrever!

Eideteamar disse...

Eu te imaginei sozinho na praça c/ mochila nas costas e mais duas sacolas quando Rone me contou que o resto da turma ainda não havia chegado, mas não parei pra imaginar como estava o acampamento e agora lendo seu diário me deu até vontade de viver tudo. Agente sente uma emoção só de ler.

menina ruiva. disse...

Eu trocaria um banho quente e uma cama bem aconchegante por esse acampamento ...


Quem sabe da proxima né ?!
=D

Guerreiro Solar - Kin256 disse...

Ah Binho, se pudessemos descrever em palavras aqueles dias e noites que vivemos no camping. Decerto teriam que haver palavras perfeitas que ensinam e insinuam...Setembro tem mais...